refeito de Belém pela terceira vez, Edmilson Rodrigues sempre pintou um retrato idealizado da capital paraense, uma espécie de “cidade perfeita”. Em suas duas primeiras gestões conseguiu plantar marcas, se destacando por ações como Bolsa Escola, Orçamento Participativo, Conselhos Populares de Fiscalização de Obras, Pronto Socorro do Guamá, Aterro Sanitário do Aurá e Aldeia Cabana, dentre outras. Na terceira, a marca que deixou foi a da ineficiência, seja no saneamento básico, na coleta de lixo ou mesmo na revitalização de feiras e mercados, ou na simples manutenção de praças. Nada pode ser destacado como um trabalho de excelência.
A cidade “perfeita” que emerge das
falas de Edmilson é uma construção idílica, que não se sustenta diante da
realidade enfrentada pela maioria da população. O que se observa em seus
pronunciamentos é um exagero de prognósticos que leva ao isolamento político,
que por sua vez deriva no ocaso do Psol como “projeto de poder” alternativo ao
PT.
Partido eminentemente urbano que teve
a oportunidade de governar sua única capital, o Psol agora enfrenta uma série
de desafios que comprometem sua credibilidade pública e relevância política no
País. Por isso Edmilson virou assunto na campanha de São Paulo - não como
exemplo de boa gestão; ao contrário, na boca dos adversários de Guilherme
Boulos.
Um mito grego
Edmilson Rodrigues parece, nesse
contexto, ressuscitar o mito grego de Pigmalião, aquele que descreve um
escultor que, apaixonado por sua própria criação, a faz ganhar vida. Seu desejo
se consolida, se corporifica, se realiza. Essa pode ser uma metáfora adequada
para entender a dinâmica da administração do alcaide. Assim como Pigmalião
investiu todas suas expectativas e paixão em uma estátua, Edmilson também
“desenhou” uma Belém ideal, repleta de promessas de progresso, desenvolvimento,
gôndolas trafegando em canais, revolução na coleta de lixo, ônibus elétricos
circulando, novas ideias emergindo em cada esquina. No entanto, ao invés de ver
sua criação florescer, o que se observa é uma realidade marcada pela
insatisfação popular e pelo descaso administrativo, refletindo um fenômeno que
pode ser interpretado, à luz da psicologia, através do Efeito Pigmalião e do
Efeito Golem.
O Efeito Pigmalião, conforme estudado
pelo psicólogo Robert Rosenthal, sugere que altas expectativas podem levar a um
desempenho superior. Edmilson, ao nutrir expectativas elevadas para sua
administração, poderia, em teoria, ter inspirado não apenas sua equipe, mas
também a população a acreditar em um futuro melhor a partir de um presente de
realizações. No entanto, o que se verifica é um movimento oposto, onde as
baixas expectativas sobre sua gestão se transformam em um Efeito Golem,
resultando em um desempenho abaixo do esperado, com a gestão sendo marcada por
ineficiências, graves denúncias e descontentamento generalizado.
Imagem do isolamento
A recente decisão da cúpula do PT de
deixar Belém fora das visitas do presidente Lula é um sintoma claro desse
isolamento. Lula, ao priorizar capitais onde há uma maior probabilidade de
sucesso eleitoral, sinaliza que não vê em Edmilson uma figura capaz de
representar as aspirações da esquerda.
Essa exclusão reflete não apenas a
falta de apoio, mas também a percepção de que a administração de Edmilson não é
uma aposta segura para o futuro. A ausência de eventos políticos significativos
na cidade, como a entrega de obras ou programas, corrobora essa visão de um
governo que não consegue se conectar com as necessidades da população.
Além disso, a relação conflituosa
entre Edmilson e setores de seu partido, o Psol, demonstra a fragilidade dessa conexão.
A estratégia de se associar à COP30, tentando posicionar Edmilson como “pai do
evento”, exemplifica uma tentativa de resgatar a imagem do prefeito em um
contexto positivo. No entanto, essa estratégia se mostra insuficiente diante da
irremovível rejeição. A expectativa de que uma única iniciativa - como a
abertura do Mercado de São Brás para a visitação pública - possa mudar a
percepção do eleitor ignora a realidade de que as expectativas precisam ser
alimentadas por ações concretas, resultados tangíveis e uma liderança que
desperte esperança.
Tempo perdido
A tenaz e inócua luta do Psol para
recuperar o prestígio perdido e fortalecer a imagem de Edmilson indica a
urgência de um novo enfoque. Para que o Efeito Pigmalião possa ser recuperado,
seria necessário que o prefeito e seu partido adotassem uma postura mais
conectada às demandas da população e menos autoproclamatórias.
Isso implica não apenas ouvir
verdadeiramente os cidadãos e fazer o mea-culpa, mas também propor
soluções factíveis que atendam suas necessidades urgentes, reacendendo assim um
ciclo positivo de expectativas e resultados.
Frustração e desencanto
A narrativa de Edmilson, que deveria
ser uma história de esperança e transformação, se transforma em um relato de
frustração e desencanto. A desconexão entre a visão idealizada de uma Belém
perfeita - a “felizcidade” - e a realidade caótica enfrentada pelos cidadãos
enfatiza a importância de cultivar expectativas realistas e de agir com base
nelas.
O Efeito Pigmalião, aplicado ao
contexto político, revela a necessidade de um alinhamento entre as aspirações
dos líderes e as realidades da população. E isso não se faz de costas para a
população, mas ouvindo-a. Sem essa conexão, o risco de um Efeito Golem se torna
evidente, onde a crença em um futuro melhor se desmorona sob o peso das
expectativas não correspondidas.
Crise de representação
Os desafios enfrentados por Edmilson
e pelo Psol não são apenas questões locais; eles refletem uma crise mais ampla
de representação política no Brasil. A insatisfação com a política tradicional,
a falta de confiança em líderes e a busca por alternativas que se apresentam
como mais eficazes têm levado os cidadãos a questionar a validade das promessas
feitas pelo prefeito de plantão.
A gestão de Edmilson, que deveria ser
uma resposta a essa demanda por mudança, acabou se tornando parte do problema,
corroendo a confiança que os eleitores depositaram, uma vez mais, em seu
governo.
O tempo corre velozmente em direção
ao dia do voto. No horizonte, o cenário onde Edmilson e o Psol consigam
reverter essa tendência parece o menos provável. A construção de um novo
caminho, que não apenas reconheça as dificuldades enfrentadas, mas que também
busque soluções práticas e viáveis, tinha um tempo de maturação que parece ter
passado.
Sem a queda da rejeição estrutural de
Edmilson, é impossível restaurar a confiança da população. O futuro de Belém
parece ter bifurcado, traçando para a trajetória política de Edmilson um
caminho diverso.
Éder Mauro, do PL, e Igor Normando,
do MDB, ao que tudo indica, disputarão o segundo turno. Não se trata de mérito
de nenhum deles, ambos insuficientes em carisma, experiência de gestão e
projetos estruturantes. A um deles, é o que os números indicam, caberá
transformar expectativas, não tão altas, em realidades tangíveis. A cidade
perfeita não se tornará uma realidade, mesmo que haja uma mudança de paradigma,
onde o diálogo, a ação e a conexão com a comunidade prevaleçam sobre a
idealização.
Pigmalião e Golem
A história de Edmilson e do Psol à
frente de Belém parece ter chegado ao capítulo final. E serve como um alerta
sobre o poder das expectativas na política. O Efeito Pigmalião e o Efeito Golem
não são apenas conceitos acadêmicos; eles são realidades que moldam o destino
de líderes e governos. Portanto, para que governantes possam reverter quadros
semelhantes e resgatar a confiança da população, a estratégia é agir com a
mesma paixão que Pigmalião teve por sua obra, mas, acima de tudo, garantir que
suas ações correspondam às expectativas que ele mesmo criou.
Somente assim será possível
transformar o delírio de uma cidade perfeita em esboço de uma realidade
possível e necessária na Belém do agora.
Papo Reto
· Para quem não entende bem a
linguagem dos bancos, e principalmente de consultorias contratadas sem
licitação, trata-se apenas de um ‘jeitinho’ infame criado para burlar as regras
legais do jogo.
· Vem a ser a legitimação dos
desmandos, no mais das vezes pilotados por “barnabés” que promovem aberrações
como barrar, ‘de boca’, contratos de obras civis em curso e legalmente
comprovadas.
· Daí que, como acontece em
Belém, aparece a ‘verdadeira vencedora’ de uma “nova licitação” aqui e acolá,
no caso, vinda de Manaus.
· A construtora amazonense, que
ficou em 9º na disputa, viu serem desclassificadas oito concorrentes, ainda que
em fase de conclusão de obras, quando não concluídas e entregues.
· Tudo
isso com o meu, o seu, o nosso dinheirinho, para pagamento de multas
contratuais e outras penalidades.
· Para não deixar de falar em
flores: a Polícia Federal costuma chegar para o café da manhã bem cedo. Não
sabe de nada, inocente!
· A prefeita de Oeiras do Pará,
Gilma Ribeiro (foto), do PP, não se conteve e foi para as redes
sociais atacar o senador Zequinha Marinho e o deputado federal Júnior Ferrari,
que, em recente visita à cidade, prometeram ajudar o candidato Jesus Nahum, do PSD,
com emendas e recursos.
· Gilma saiu da linha e mandou
o senador “honrar os votos que teve no município”, enquanto chamou Ferrari, a
quem não cita o nome no vídeo, de "oportunista". Gilma tenta a
reeleição, mas amarga uma rejeição superior a 40% e insiste em colocar - pelo
que não fez - a culpa nos outros. Faz parte.
· Lombadas sem pintura alguma
na rodovia Independência seguem oferecendo perigo iminente a motoristas
menos avisados do perigo.