Feriado

O Pará e a resistência em aderir à independência do Brasil: entenda o feriado de hoje

Aprovação da data comemorativa aconteceu somente 173 anos depois que o Estado - a última das províncias brasileiras - se tornou definitivamente independente de Portugal.

15/08/2023 12:08
O Pará e a resistência em aderir à independência do Brasil: entenda o feriado de hoje

No dia 15 de agosto de 1823 o Pará assinava o documento de adesão à independência do Brasil e se tornava politicamente livre de Portugal. A importância desse fato é cercada de interesses políticos e comerciais, mas é também desconhecida pelos próprios paraenses. O feriado de hoje faz parte de um grande movimento criado por historiadores e pela classe política para tornar o 15 de Agosto mais conhecido da população. Ele foi criado pela Lei n° 5.999, de 10 de Setembro de 1996, pelo Parlamento Paraense - 173 anos depois da adesão do Pará à independência.


Um dos fatos desconhecidos de grande parte da população, por exemplo, é que esse período de transição foi cercado de sangue e conflitos violentos. "Por conta das baixas brasileiras, uma milícia de marinheiros, sob a liderança do comandante de fragata inglês, John Grenfill, chegou ao Pará e ameaçava bombardear e destruir Belém com uma esquadra que, segundo ele, estava ancorada na Baia do Guajará, mas tudo não passava de blefe”, explica o historiador Diego Maia. Essa foi, no entanto, uma de tentar vencer uma resistência que se mostrava firme e decidida.


A independência do Brasil teve início pelo Rio de Janeiro e contou com campanhas de adesão por várias outras províncias ao movimento carioca. Mas, assim como o Pará, também houve quem não aceitasse essa decisão com facilidade. O Pará, no entanto, despertava especial preocupação do governo brasileiro não somente pela influência portuguesa na região, mas também pela extensão territorial. À época, bem maior do que é hoje. Estamos falando de um território suficientemente grande e muito bem localizado para formar um novo e grande país.


"O principal motivo para a não adesão do Pará à independência brasileira era o comercio entre a província e Portugal. O Pará era repleto de comerciantes portugueses e brasileiros e, de certa forma, essa independência prejudicaria esse comercio. O Rio de Janeiro, que liderava entre as províncias o movimento de adesão, não tinha autonomia sobre a região Norte por conta da distância. Tudo era por carta ou navio. Ou seja, a questão era mesmo preservar o comércio e o dinheiro que essas negociações geravam”, explica Maia.


Mas a adesão chegou e, com ela, muita insatisfação. As mudanças se restringiram à estrutura de poder, beneficiando uma elite aristocrata da época. "Quando você analisa uma sociedade de camada mais baixa não vê alteração, pelo contrário, houve um aumento na dificuldade de vida para as pessoas de baixa renda, que eram muitas na época. Foi, na verdade, um movimento elitista e que gerou um imenso descontentamento na região, inclusive de portugueses”, relata o historiador.


A Estrela


Diego Maia aproveita para explicar uma curiosidade equivocada. Muitas pessoas atribuem a posição da estrela do Pará na bandeira do Brasil à adesão do Estado à independência. Mas a razão é outra. “A estrela acima da frase ordem e progresso significa que a província do Pará era a última acima da linha do equador. Ou seja, tem a ver com a questão geográfica brasileira e não com o fato de o Pará ter sido a última província a aderir à independência do Brasil”, conclui. Vale lembrar que cada estrela na bandeira nacional representa um Estado brasileiro.

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