Transtorno sem fim

Atraso das obras do BRT Metropolitano perpetua drama na BR 316; não há saída, nem escapatória

Vencidos todos os prazos previstos desde o início das obras, já nem se fala em finalização do projeto, que começou com custos de R$ 395 milhões e já bate a casa do meio bilhão.

14/07/2023 09:33
Atraso das obras do BRT Metropolitano perpetua drama na BR 316; não há saída, nem escapatória

O projeto de requalificação do trânsito na BR 316 Nova BR, que inclui o BRT Metropolitano, com obras iniciadas pelo governo do Estado em janeiro de 2019, continua a gerar transtornos, engarrafamentos e acidentes. É o pesadelo de milhares de motoristas que necessitam entrar ou sair de Belém, drama que se agigante no período de férias escolares por conta do aumento na circulação de veículos.


As obras de infraestrutura gerenciadas pelo Núcleo de Transporte Metropolitano (NGTM), que envolvem pouco mais 21 quilômetros da rodovia, começam no Entroncamento e se estendem à cidade de Marituba, com a proposta de integrar o transporte, gerar ganho de mobilidade e assim reduzir o tempo de viagem São Brás-Marituba.

 

“É complicado entrar e sair de Belém; tanto faz ser período de férias ou dias normais, está ruim. A gente tenta chegar cedo para não pegar engarrafamento, mas fica preso em congestionamentos. E as obras não acabam nunca”, critica o motorista Edilson Melo, 43. O salinense faz transporte de passageiros de segunda a sábado entre Belém e Salinas. “O horário mais difícil é das 7h às 9h, e depois, das 16h em diante, quando o transtorno recomeça”, acrescenta.


Transtorno para chegar ou sair de Belém é diário, mas em julho situação é ainda pior. (Fotos: Agência Pará)

Estica o calendário


Apesar do planejamento, o calendário das obras só esticou e o projeto, que seria finalizado em agosto de 2020, foi prorrogado para dezembro de 2021, e acabou por ganhar novas datas: com a saída da Construtora Odebrecht, em 2021, o Consórcio Mobilidade Grande Belém assumiu, o que impôs a entrega para final de 2022, o que não ocorreu. Março deste ano foi a nova aposta para o início da operação, mas também não deu certo e as obras seguem com os mesmos transtornos de sempre. 


Segundo o NGTM, uma das expectativas do BRT Metropolitano é reduzir o tempo de deslocamento entre Belém e Marituba em 50%. Até que isso possa ocorrer, o drama dos motoristas que dependem da BR 316 deve continuar. Os motoristas entrevistados reclamaram da ausência de agentes de Trânsito na orientação na BR 316, principalmente durante os congestionamentos. 


Consumação das horas


Acostumada a encarar a estrada, a bancária Gisele White, 42, exemplifica, em números, os atrasos. “Está complicado tanto para sair como para entrar na cidade. Só no trecho entre a Mário Covas (avenida) e a entrada da Alça Viária, gasto uma hora para ir e uma hora e meia para voltar. Viajo semanalmente para Paragominas, e de três horas, em média, tenho gasto uma para sair e mais uma até Castanhal: são cinco horas”, disse.


Com investimento inicial de cerca de R$ 385 milhões, o projeto de engenharia já atingiu a casa dos quase R$ 500 milhões, mas, pelo visto, não está garantindo melhores dias à publicitária Skarlat Carvalho, 28. Moradora há mais de 20 anos do Conjunto Júlia Sefer, em Ananindeua, ela tem usado muito da criatividade para sair e chegar em casa. Uma das soluções para fugir do afunilamento do trânsito e engarrafamentos é seguir pelo bairro de Águas Lindas.


“A gente sempre teve que calcular uma rota para chegar no centro, que levava uma hora ou mais; no Entroncamento, em média, meia hora. E com essa obra tudo dobrou. Além de diminuírem as pistas, agora são só com duas pistas, isso atrapalhou muito. E mudaram os retornos, dificultou a saída de quem quer ir para o centro da cidade”, adverte a publicitária. 


“Temos que sair com antecedência e pegar atalhos, ir por dentro de Águas Lindas, e seguir por caminhos sem asfalto”, disse.


Sem esclarecimentos


O Portal Olavo Dutra solicitou ao NGTM informações sobre o atual status e o percentual referente ao avanço das obras, mas não obteve retorno. O mesmo ocorreu com o MP e Detran.

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