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Paris-2024: Pela primeira vez na história, Brasil terá mais mulheres do que homens em Jogos Olímpicos

Essa é a expectativa, de acordo com as 101 vagas femininas conquistadas até o momento

08/03/2024 10:56
Paris-2024: Pela primeira vez na história, Brasil terá mais mulheres do que homens em Jogos Olímpicos

Pela primeira vez na história, o Time Brasil deverá ser composto por mais mulheres do que homens nos Jogos Olímpicos de Paris. Nunca o total de brasileiras foi maior que o de brasileiros entre os enviados a uma Olimpíada. Até agora são 163 vagas garantidas, sendo 101 femininas, 47 masculinas e outras 15 sem gênero (no hipismo, as mulheres competem com os homens e a natação não tem definição dos revezamento).

O número passou de 100, nesta quinta-feira, com a garantia da vaga para a dupla Duda e Ana Patrícia, do vôlei de praia, e de Georgia Furquim Bastos, para o país no skeet feminino do tiro esportivo. Paris-2024 será a edição de equidade de gênero, com 50% de participação para cada naipe: serão 5.250 homens e 5.250 mulheres. Até julho têm janelas de classificação.

 

A vantagem feminina até agora se deve aos esportes coletivos. Isso porque as seleções femininas de rúgbi seven, handebol e futebol estão garantidas. Em contrapartida, a equipe masculina de futebol não irá ao evento e a de rúgbi e handebol ainda precisarão jogar Pré-olímpicos. Handebol deve ter mais chances.

 

“Se acontecer, será mais um marco importante na história do esporte brasileiro. O esporte feminino de alto rendimento vem tendo um crescimento significativo no Brasil. Se pararmos para pensar que em 1964, a Aída dos Santos foi a única mulher brasileira nos Jogos Olímpicos, a evolução é muito grande, isso foi a apenas 60 anos atrás”, comenta Mariana Mello, gerente de planejamento e desempenho esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

 

Desde 1932, quando Maria Lenk disputou a Olimpíada de Los Angeles, a participação feminina cresceu. De Los Angeles a Montreal-1976, variou entre uma atleta e 11. Em Moscou-1980 foi para 15, depois 22 (Los Angeles-1984), 35 (Seul-1988)... Em Tóquio-2020, chegou a 141 atletas (46,5% do total). Na primeira edição da era moderna, em 1896, as atletas eram proibidas de competir, como ocorria na Grécia Antiga.

 

“Ser maioria é maravilhoso. As mulheres treinaram tanto, se esforçaram tanto para conseguir seus espaços que para mim é uma honra fazer parte desta porcentagem”, comemora Rebeca Andrade, que em Tóquio fez história ao conquistar duas medalhas, o ouro no salto e a prata no individual geral. “É muito legal ver o protagonismo da ginástica feminina e mais ainda, viver isso com esta equipe cheia de mulher”.

 

Carro chefe

 

Agora, o carro chefe do Brasil são as mulheres. Há mais favoritas ao alto do pódio do que favoritos: além de Rebeca, Rayssa Leal, Ana Marcela Cunha, Mayra Aguiar, Beatriz Souza, Bia Ferreira, Ana Patrícia/Duda, Martine/Kahena, entre outras.

 

Em Tóquio-2020, elas foram as principais responsáveis para o país alcançar seu melhor resultado. Das 21 medalhas, sendo sete de ouro, seis de prata e oito de bronze, as mulheres ganharam nove. Quase o dobro das cinco conquistadas em casa, na Rio-2016. Enquanto os homens ganharam 10,16% das medalhas que disputaram em Tóquio (12 em 118), as mulheres venceram 11,25% (9 de 80).

 

O mesmo ocorreu nos Jogos Pan-americanos de Santiago-2023. Das 205 medalhas, sendo 66 de ouro, 73 de prata e 66 de bronze, com novo recorde do total de medalhas e de ouros, a maioria veio das mulheres. Foram 95 para elas, 92 para os homens e 18 para as equipes mistas. Do total de ouros, elas foram responsáveis por 33, sendo 29 masculinos e quatro em disputas mistas.

 

Futuro ainda mais promissor

 

E pensando nos Jogos de Los Angeles-2028 e Brisbane-2032, a Área da Mulher no Esporte, criada há três anos, ganha força e combustível. “Faz parte da corrida olímpica. Os países que perceberem este potencial de crescimento no feminino e se movimentarem antes, vão chegar antes. E a gente não pode ficar atrás”, diz Taciana Pinto, gerente de desenvolvimento esportivo do COB, que comemora a adesão das confederações nacionais nessa caminhada.

 

É que em 2024, a Área da Mulher recebeu 79 projetos, envolvendo 28 modalidades, um aumento de 119% no número de projetos enviados no ano passado. Em 2023, na estreia do programa, foram recebidos 34 projetos, sendo oito contemplados.

 

Destes 79 projetos, foram aprovados 15 e a previsão de investimento é de mais de R$ 1,3 milhão. E destes aprovados, 11 envolvem o desenvolvimento de treinadoras. Em Tóquio, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), o total de assistentes mulheres e treinadoras variou de 10% a 13%. Do Brasil, segundo o COB foi 6,7%.

 

“Sim, este número nos incomoda também”, diz Júlia Silva, gestora esportiva na Área da Mulher, lembrando da importância desta profissão no desenvolvimento das mulheres atletas.

 

Mas, ela acrescenta que muitas confederações passaram a incluir em seu planejamento anual projetos para o feminino, inclusive sem contar com esta verba extra do COB.

“Este ano a gente viu um movimento diferente. Entenderam que é importante investir no feminino e que o resultado vem. É só ver o que acontece hoje”, declara Júlia, referindo-se aos resultados das mulheres atualmente. “Paris será um marco. São várias ações, desde nomear as instalações com nomes de mulheres e de terminar o evento com a maratona feminina. Será uma virada”.


Fonte: O Globo

Foto: Alexandre Loureiro/COB

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