Mau exemplo

Folha de São Paulo aborda influência negativa da gestão de Edmilson Rodrigues para Boulos

Greves, lixo e investigações da prefeitura do PSOL em Belém fustigam Boulos em SP. Prefeito Edmilson Rodrigues foi condenado por improbidade e sofre com impopularidade; partido diz que perfil das cidades é diferente

05/02/2024 16:07
Folha de São Paulo aborda influência negativa da gestão de Edmilson Rodrigues para Boulos

São Paulo (SP) - Os problemas enfrentados pela Prefeitura de Belém, única capital administrada pelo PSOL no país, como greves de servidores e acúmulo de lixo, fustigam o partido em sua tentativa de conquistar a Prefeitura de São Paulo com Guilherme Boulos (PSOL).

Em 2020, o PSOL elegeu apenas cinco prefeitos - Edmilson Rodrigues foi um deles. Ele já havia sido prefeito de Belém por dois mandatos, entre 1997 e 2004, quando era filiado ao PT. Professor universitário, também foi deputado estadual e federal.

Na sua atual gestão, servidores municipais da assistência social, professores e médicos entraram em greve, reivindicando ajuste de salário e pagamentos atrasados. A paralisação dos profissionais da saúde, em outubro, prejudicou o funcionamento de três UPAs na capital paraense.

Mais recentemente, as falhas na coleta de lixo têm gerado reclamação entre a população e preocupação por causa da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), evento que Belém vai sediar em 2025.

Em janeiro, a prefeitura apresentou uma nova empresa contratada por meio de uma PPP (parceria público-privada) para coletar o lixo, varrer as ruas e implantar um novo aterro sanitário. A promessa é a de que a situação seja normalizada em até 90 dias.

Cabo eleitoral do concorrente

A má avaliação da gestão de Edmilson pode ser explorada na campanha paulistana para descredibilizar a capacidade de administração do PSOL e atingir Boulos, de acordo com integrantes da equipe do principal rival, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) - que já levantam informações sobre a situação em Belém. O governador do Pará, Helder Barbalho, é do MDB.

O vice de Edmilson, Edilson Moura, é do PT - dobradinha que vai se repetir em São Paulo com Boulos e Marta Suplicy, que voltou a se filiar ao PT na última sexta-feira (2). No campo bolsonarista, Edmilson também é um meio para criticar o PSOL.

O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) publicou em 12 de janeiro um vídeo do prefeito sendo vaiado. "Sempre que o PSOL ganha uma prefeitura, é assim o resultado: indignação e revolta por tanta incompetência e promessas impossíveis de serem cumpridas", postou.

Planos para as eleições

Mesmo entre os integrantes do PSOL, Edmilson é alvo de fogo amigo. "O PSOL já administra uma prefeitura, que é a de Belém. Eu, honestamente, quero que Boulos faça uma prefeitura como a de Luiza Erundina […], que organiza a base, que aposta em medidas radicais e estruturais. E não como a de Edmilson, que infelizmente, é um dos prefeitos com uma das piores avaliações do país", disse a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) em um evento do partido no ano passado.

Prefeito e companheira enrolados com a Justiça

Em 2016, quando exercia o cargo de deputado federal, Edmilson foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa em uma ação que se refere à sua primeira passagem pela prefeitura.

A decisão considera ter havido desvio de finalidade nos gastos com verba que deveria financiar a educação, além da não entrega de livros didáticos. Edmilson recorreu, e o processo ainda está em andamento. Na época, o diretório do PSOL em Belém afirmou que a sentença era "equivocada" e que fora emitida "12 anos após o fim da gestão de Edmilson e às vésperas do período eleitoral”.

A mulher de Edmilson, Nayra Rossy Santos, é alvo de um inquérito instaurado pelo Ministério Público do Pará em maio de 2023 para apurar se ela acumulava cargos públicos - de professora municipal, de diretora-geral na Secretaria Municipal de Administração e de integrante do conselho de administração de uma estatal em que o município de Belém é acionista majoritário.

Ela assumiu os dois últimos cargos durante um período da gestão de Edmilson, segundo a apuração. A Prefeitura de Belém passa ainda por problemas financeiros devido à queda de arrecadação, fator que contribui para a insatisfação dos servidores que entraram em greve.

Haja greve

Em outubro de 2023, a paralisação de médicos durante cinco dias teve como motivo o atraso de salários de aproximadamente 140 profissionais desde julho por falta de repasses da prefeitura às organizações sociais que gerenciam as UPAs.

Ainda em relação ao serviço médico, o Ministério Público do Pará chegou a ajuizar uma ação civil pública contra a prefeitura, em dezembro de 2022, porque uma cooperativa de cardiologistas suspendeu o atendimento ao SUS por falta de pagamento do município - havia 186 pacientes na fila para cirurgia.

A greve de servidores da Fundação Papa João 23, entidade responsável pela assistência social, reivindicava 5% de reajuste salarial. O sindicato informou à época que todos os cerca de 600 servidores efetivos aderiram à paralisação.

Houve ainda, em abril e maio de 2022, paralisação dos professores municipais. Nesse episódio, Edmilson foi criticado por veículos de esquerda por supostamente ter cortado 24 dias de salários dos professores grevistas.

Silêncio e culpa a terceiros

Procurada pela Folha por email, a Prefeitura de Belém não respondeu até a publicação desta reportagem.

O PSOL, por meio de nota, afirma que "a Prefeitura de Belém optou por resolver de maneira definitiva o tema do lixo, que não se iniciou na gestão Edmilson", e "abriu uma licitação que nunca houve na história da cidade, onde só havia contratos emergenciais de até um ano”.

O partido diz que Belém e São Paulo têm perfis "geográficos, demográficos e socioeconômicos distintos". "Belém tem uma realidade financeira muito diferente da encontrada em São Paulo, que possui problemas que poderiam ser resolvidos não fosse a incompetência do atual prefeito, que nem sequer cumpre seu estreito plano de metas, mesmo com R$ 30 bilhões em caixa.”

A nota afirma ainda que o PSOL "não tem vergonha de seus posicionamentos políticos nem de seus quadros e aliados". "Já o atual prefeito finge que não quer fazer de São Paulo um polo de aglutinação da extrema direita, mas traz para a gestão políticos alinhados ao bolsonarismo, que legaram ao país nada além de miséria e morte e que agora se instalam na capital paulista", completa.

Ainda assim…

Neste ano, Edmilson deve concorrer à reeleição tendo como principal adversário o deputado federal bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL-PA). Ao se eleger em 2020, com 51,76% dos votos, o candidato do PSOL derrotou outro bolsonarista, Everaldo Eguchi, que terminou com 48,24%.

(Foto: Mácio Ferreira/Ag.Belém)

(Com a Folha)

Mais matérias Política