O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta quinta-feira, 16, que
não irá demitir os secretários do ministério que realizaram audiências com a
mulher do líder do Comando Vermelho (CV) na sede da pasta. Segundo o ministro,
uma demissão dos seus subordinados ocasionaria uma desmoralização na sua
imagem.
"Os secretários que receberam praticaram algum ato ilegal? Os secretários
praticaram algum crime? Beneficiaram supostamente o Comando Vermelho em quê? É
preciso ter um pouco de responsabilidade e de seriedade. Eu tenho o comando da
minha equipe, confio na minha equipe e eu não demito secretário de modo
injusto. Se eu fizesse isso, quem iria ser desmoralizado não ia ser o
secretário, era eu", afirmou.
Conforme revelou o Estadão, o Ministério da Justiça deu andamento a pedidos da
ONG Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), entidade que recebeu dinheiro do
Comando Vermelho.
O ministro afirmou também que os ataques que vem recebendo por conta do caso
são um "desespero" de opositores. As declarações foram feitas em uma
agenda no Ceará. "Obviamente é um desespero político de quem está
insatisfeito com o combate ao crime organizado que nós estamos fazendo",
disse Dino.
Uma série de reportagens do Estadão revelou que Luciane Barbosa Farias, mulher
de um dos líderes do CV no Amazonas, esteve em duas reuniões com quatro
integrantes da pasta. Ao falar sobre o assunto, Dino sugeriu que Luciane seria
uma convidada para a audiência no ministério e que não poderia impedir a
entrada dela no prédio.
"Às vezes um prefeito tem uma audiência, e a audiência é do prefeito. Só
que no momento da audiência, entram com o prefeito oito pessoas. Os deputados
sabem disso todos. Você vai fazer o quê? Vai barrar? Vai impedir? Por quê? É um
prédio público. Não existe presunção de culpa, existe presunção de
inocência", disse o ministro.
O ministério argumenta que a mulher seria uma convidada da advogada ex-deputada
estadual Janira Rocha, que foi a autora do pedido de audiência. Porém, na
terça-feira, 14, o Estadão mostrou que Janira também possui ligações com o
Comando Vermelho Sobre isso, o ministro não comenta.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Instagram/ flaviodino
Nesta quinta-feira, Dino repetiu que nunca teve contado com Luciane, o que
nunca foi afirmado pela imprensa, e questionou se teria que ser o responsável
por gerir a sua agenda e dos outros secretários que trabalham na Justiça.
"Eu tenho embaixo de mim dez órgãos. Eu tenho que dar conta da minha e dos
mais dez que trabalham comigo?", perguntou.
Luciane esteve, no dia 19 de março, com Elias Vaz, que é secretário Nacional de
Assuntos Legislativos de Flávio Dino. Dois meses depois, em 2 de maio, ela se
encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de
Políticas Penais (Senappen). Ao todo, Luciane se reuniu com quatro assessores
da pasta.
Nesta quinta-feira, o Partido Novo denunciou à Comissão de Ética Pública da
Presidência da República dois secretários do Ministério da Justiça e Segurança
Pública que esconderam as reuniões que tiveram com Luciane Barbosa Farias,
representante de ONG e acusada de ter ligação com o Comando Vermelho, conforme
revelou o Estadão. O ministro Flávio Dino também não comenta o fato.
Ela é esposa de Clemilson dos Santos Farias, o "Tio Patinhas", líder
do Comando Vermelho no Amazonas e que está preso após ser condenado a 31 anos
de prisão. Luciane entrou no Ministério da Justiça como presidente da
Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). A ILA se apresenta como uma
ONG que atua em defesa dos direitos dos presos. Mas, segundo a Polícia Civil
amazonense, a organização atua em prol dos detentos ligados à facção e é
financiada com dinheiro do tráfico de drogas.
Luciane foi condenada em segunda instância em outubro a 10 anos de prisão pelos
crimes de associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de
dinheiro, mas recorre da decisão em liberdade. Em nota, ela afirmou que não é
"faccionada" de nenhuma organização criminosa e que está sendo
criminalizada pelo fato de ser esposa de um detento. Ela é casada com Tio
Patinhas há 12 anos.
A "dama do tráfico" também esteve no Ministério dos Direitos Humanos,
com passagens pagas pela pasta. A última visita de Luciane a Brasília foi no
começo deste mês mesmo depois de ter sido condenada em segunda instância por associação
ao tráfico de drogas. O ministério diz que desconhecia os fatos e se eximiu da
responsabilidade.
STF
Após a série de reportagens sobre as idas e vindas de Luciane no Ministério da
Justiça, Dino deixou de ser o favorito para ocupar a cadeira deixada pela
ministra aposentada Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo
revelou a Coluna do Estadão, o retrato de momento é uma disputa afunilada para
o STF entre os ministros Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e Bruno
Dantas (Tribunal de Contas da União), com uma ligeira vantagem para o nome de
Messias.
No Ceará, o ministro da Justiça disse que está muito feliz à frente da pasta e
que se fosse deslocado para o Judiciário pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), seria uma ação contra o seu interesse pessoal. "Hoje eu estou
muito feliz onde eu estou. Aliás é muito possível ver isso. Eu estou muito
feliz e, portanto, qualquer eventual mudança de planos não seria um ato de
vontade meu", disse Dino.