Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), publicou na
noite desta terça-feira, 23, um vídeo em que se desvincula dos elogios que
havia conferido às gestões anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Me criticaram porque eu disse que o atual mandatário era popular no
passado. Mas ele não chega aos pés do que Bolsonaro representa", disse
Costa Neto, dirigente da sigla que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na
semana passada, o trecho de uma entrevista em que Valdemar elogia o "prestígio"
de Lula repercutiu nas redes sociais e gerou mal-estar dentro do PL.
"Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente",
afirmou Valdemar ao jornal regional O Diário. A entrevista foi concedida ao
jornalista Darwin Valente em 15 de dezembro de 2023, mas o trecho só repercutiu
semanas depois. Além de dizer que não havia comparação entre os mandatários,
Valdemar disse que Lula "foi bem no governo" e que havia sido julgado
por um juiz que "superou os limites da lei", aludindo ao senador
Sergio Moro (União Brasil-PR).
O trecho foi mal recebido por setores no PL ligados ao ex-presidente. Jair
Bolsonaro ficou indignado com os elogios a Lula e falou em "implosão"
do partido diante das "declarações absurdas". "Essa semana tive
um problema sério, não vou falar com quem... ‘Ó, se continuar assim, você vai
implodir o partido’ Pessoa do partido dando declaração absurda. Como 'o Lula é
extremamente popular'. Manda ele vir tomar um 51 ali na esquina. Não vem",
disse Bolsonaro em conversa com apoiadores em Angra do Reis, na região dos
Lagos do Rio de Janeiro.
No vídeo publicado na noite desta terça-feira, Valdemar buscou abafar quaisquer
rumores de "implosão". "O PL escolheu o presidente Bolsonaro, e
isso é irreversível", disse o presidente da sigla.
Procurado na manhã em que o trecho da entrevista repercutiu, Valdemar alegou
que a montagem do vídeo desfavorecia os elogios que ele havia feito a
Bolsonaro. Ao dizer que não havia comparação entre os dois, explicou Costa
Neto, ele apenas contrapunha dois tipos de "prestígio": o de Lula,
com "popularidade", e o de Bolsonaro, líder de "carisma".
Quanto à declaração de que Lula havia feito uma boa gestão, afirmou que não
poderia faltar com a verdade. "Eu não ia falar uma mentira sobre o Lula,
senão eu perco a credibilidade", disse Valdemar Costa Neto ao Estadão.
"Tem gente da direita que não se conforma com isso, mas eu não posso falar
mal de um presidente do qual participamos do governo."
De 2003 a 2010, o vice-presidente de Lula foi José Alencar, que integrava o
partido de Valdemar, o PL. Entre 2006 e 2019, vale lembrar, o grupo mudou de
nome para "Partido da República" e adotou a sigla PR. No vídeo em que
se retrata sobre o elogio ao atual presidente, Costa Neto argumenta que os
conchavos políticos de outrora não correspondiam às amarras ideológicas atuais.
"O José Alencar, um político mais liberal, se aliou ao Lula para se
contrapor ao FHC. Antes, era assim", disse Valdemar. "Antes do
Bolsonaro, a política era diferente", afirmou.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Beto Barata/ PL