A advogada que havia processado a cantora Luísa Sonza por racismo,
Isabel Macedo, confirmou que chegou a um acordo com a artista. As informações
são do UOL, que obteve uma carta da advogada que representou Isabel no caso,
Jéssica Oliveira, na terça-feira, 19.
A acusação confirmou ter chegado a um acordo "satisfatório" e que
atendeu a todos os seus pedidos. O caso, aberto em 2020, foi arquivado no dia
16 de agosto. O valor, porém, não foi revelado, já que o processo correu em
segredo de Justiça.
Segundo o comunicado, parte do valor da indenização por danos morais pago por
Luísa foi usado por Isabel para arcar com os custos do processo. O magistrado
que recebeu a ação havia negado à advogada o direito à gratuidade de Justiça,
ainda conforme a nota.
Jéssica descreve que o objetivo do processo foi "demonstrar como que
inclinações pessoais, ainda que inconscientes, afetam o julgamento do indivíduo
sobre determinados grupos minoritários", se referindo ao racismo
estrutural.
A advogada, porém, lamentou a falta de apoio do Judiciário pela
sub-representação de grupos minoritários.
A acusação ainda celebrou a retratação pública feita por Luísa, o que, segundo
a nota, contribui "para o debate e para a reflexão acerca das diversas
formas de racismo na nossa sociedade".
O jornal O Estado de S. Paulo entrou em contato com a assessoria de Luísa Sonza
para também confirmar o acordo e o arquivamento, além de comentar sobre o caso,
mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.
Entenda o processo de racismo contra Luísa Sonza
A advogada Isabel Macedo processou Luísa Sonza por racismo em 2020. O caso,
porém, ocorreu em 2018, quando ambas estavam em uma festa em Fernando de
Noronha. A notícia veio à tona em 2022, quando uma audiência foi suspensa.
Isabel relatou que Luísa havia batido em seu ombro para pedir um copo d'água a
ela. "Era meu aniversário, e eu tinha viajado sozinha. Estava dançando, me
divertindo e aproveitando a festa. Por um acaso, parei atrás da Luísa. No
evento tinha vários famosos, mas nem sabia quem era ela. Nunca tinha ouvido
falar. Foi então que ela virou, bateu no meu ombro e disse: 'Pega um copo
d'água pra mim?'. Eu respondi que não tinha entendido, ela repetiu a frase e
completou 'Você não trabalha aqui?'", relatou a advogada em entrevista ao
site Notícia Preta.
Em seguida, a vítima questionou Luísa por achar que estava trabalhando na
festa. A cantora rebateu dizendo que "não era o que ela estava
pensando". "Não é demérito algum ser empregada, eu mesma já fui
doméstica, a questão é por que a branquitude sempre nos enxerga nessa posição
de serviçal? Por que nos entendem como pessoas que só podem servi-los, mas
nunca como pessoas que podem consumir, viver e viajar como eles?",
questionou Isabel.
Após a repercussão, a cantora usou as redes sociais para fazer uma retratação,
informando que iria solicitar uma audiência especial para acatar o valor pedido
pela autora do processo. "Estou lidando com essa situação como uma
oportunidade para tentar ser melhor, como sempre tentei fazer todas as vezes que
alguma coisa aconteceu comigo, publicamente ou não", escreveu.
Luísa também gravou um longo vídeo em que pedia desculpas pela situação e por
posicionamentos anteriores sobre o caso. Em 2020, ela negou que o caso fosse
verdadeiro, o que, segundo a artista, se deu por conta de uma notícia que dizia
que Luísa teria agredido uma pessoa negra.
"A nossa educação é racista, a nossa estrutura é racista, a nossa
sociedade funciona de forma racista", comentou. "A Justiça sempre vai
ser favorável a nós [brancos]. [...] Para a gente combater isso, a gente
precisa ter atitudes individuais que não compactuam com o racismo em que a
gente vive, a gente é e a gente é educado a ser. [...] Eu fico muito
decepcionada comigo mesma de não ter entendido e buscado isso antes."
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Reprodução/ Instagram