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Estatísticas de emprego no Brasil e a verdadeira realidade do trabalhador

As estatísticas oficiais não batem com a cruel realidade vivenciada no mercado pela maioria dos trabalhadores do País.

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  • José Croelhas | Especial para a COL
  • 14/09/2025, 10:00
Estatísticas de emprego no Brasil e a verdadeira realidade do trabalhador

Um cenário de frustração profunda permeia o mercado de trabalho brasileiro. Muito mais do que mera "teoria da conspiração", como líderes governistas costumam rotular, trata-se aqui de analisar fatos, números e tendências. Se não vejamos...


A taxa de desemprego divulgada pelo IBGE - atualmente entre 7 e 8% - é considerada por especialistas, como "enganosa", simplesmente por considerar desempregadas somente as pessoas que não têm trabalho, estão disponíveis para trabalhar e tomaram alguma atitude para conseguir uma ocupação nas últimas 4 semanas. Ela desconsidera, espertamente, um exército de pessoas, criando a sensação de que a situação é menos sinistra do que realmente é.


Também não considera desempregados, hoje, no Brasil, aqueles que desistiram de procurar emprego, porque não encontraram oportunidades ou não têm acesso aos canais de busca (como a internet), muito menos aqueles subutilizados -, ou seja, todas aquelas pessoas que trabalham poucas horas por semana e gostariam de trabalhar mais, porém não conseguem encontrar trabalho.


A metodologia de cálculo do desemprego do IBGE também desconsidera o que os economistas chamam de força de trabalho potencial, ou seja, todas aquelas pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego recentemente por algum motivo (estão estudando ou cuidando da casa, por exemplo), mas estariam disponíveis se houvessem vagas.


Quando se olha para a taxa de subutilização da força de trabalho, que inclui todos esses grupos que citei, a taxa de desemprego saltaria facilmente para algo em torno de 18 a 20%, mais do que o dobro da taxa anunciada pelo governo. A primeira grande farsa, portanto, é comemorar uma "queda no desemprego", enquanto milhões de pessoas permanecem artificialmente invisíveis nos números principais.


Num outro quadrante, a precarização do emprego no Brasil - hoje popularmente chamada de "uberização" -, a massa tida como empregada, viu cair absurdamente a qualidade do emprego, diante da substituição da CLT por "bicos" e plataformas, onde a maioria dos "empregos" criados não são formais com carteira assinada, direitos trabalhistas, férias e 13º. São na verdade trabalhos informais, por aplicativo  ou como microempreendedor individual, muitas vezes por necessidade, não por opção.


A pejotização, prática ilegal em que uma empresa contrata um trabalhador como pessoa jurídica, mas o submete às mesmas condições de um empregado CLT, sem os direitos e benefícios previstos na legislação trabalhista (férias, 13º salário e FGTS) e a

uberização vendem a ideia de "ser seu próprio patrão", mas na prática, o trabalhador tem horários exaustivos, praticamente nenhum direito, e é controlado por algoritmos que determinam seu ganho e sua reputação.


Ou seja, a renda é instável, não há salário fixo, depende da demanda, do clima, da sorte... impossibilitando qualquer planejamento financeiro a médio e longo prazos.


A farsa a que me refiro é chamar tudo isso de "geração de emprego". Trata-se, na verdade, de uma transferência de risco do empregador para o trabalhador, disfarçada de empreendedorismo.


E o que dizer do paradoxo do primeiro emprego? Como conseguir experiência se todas as vagas exigem experiência? Esse é um ciclo vicioso que mantém milhões de jovens fora do mercado formal, especialmente os mais vulneráveis, que não podem fazer um estágio não-remunerado ou contar com um "Q.I." (Quem Indica).


Sim, no Brasil a meritocracia não passa de discurso. Ter contatos, ser indicado por alguém dentro de uma empresa, muitas vezes vale mais do que ter o currículo ideal. Isso perpetua desigualdades e fecha oportunidades para quem vem de contextos menos privilegiados.


A grande verdade é que existe um abismo entre a narrativa oficial, embalada em números manipulados, de que "o desemprego caiu". Na realidade, milhões estão desalentados ou subutilizados e os empregos criados são precários, sem direitos e com renda instável. A qualificação deixou de ser garantia de ascensão social.


Foto: Agência Brasil

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.