Celulares pela janela e milhões em espécie; cerco judicial fecha sobre Antônio Doido Ibama confirma morte de vaqueiro durante emboscada na Terra Indígena Apyterewa Ministério da Justiça cobra Pará e ameaça bloquear repasse de verba da segurança
VOO IMPROVÁVEL

Celulares pela janela e milhões em espécie; cerco judicial fecha sobre Antônio Doido

Decisão do Supremo Tribunal Federal expõe elo entre emendas parlamentares, policiais e saques milionários no Pará

  • 340 Visualizações
  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 16/12/2025, 11:45

STF reconhece indícios “veementes” da atuação de uma organização criminosa estruturada, com ramificações empresariais e policiais/Fotos: Divulgação.



 A cena que diz tudo. Não é metáfora. Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão no apartamento funcional do deputado federal Antônio Leocádio dos Santos, do MDB, que atende pelo apelido político de Antônio Doido, celulares literalmente voaram pela janela. A tentativa de descarte de provas, registrada pela Polícia Federal em vídeo, virou a imagem-síntese da Operação Igapó - e também do estágio da investigação.

O que diz o Supremo

A operação tem respaldo direto em decisão monocrática do Supremo Tribunal Federal, no âmbito da PET 14.867. O relator autorizou buscas e outras medidas cautelares ao reconhecer indícios “veementes” da atuação de uma organização criminosa estruturada, com ramificações políticas, empresariais e policiais, voltada à prática de crimes eleitorais, corrupção, fraude em licitações e lavagem de dinheiro.

Esquema detonado

A investigação ganhou tração após a prisão em flagrante, em 4 de outubro de 2024, de operadores do grupo logo depois do saque de quase R$ 5 milhões em espécie numa agência do Banco do Brasil em Castanhal. Segundo a PF, o dinheiro saiu de contas de empresas controladas por Andrea Costa Dantas, esposa do parlamentar. Não era episódio isolado: relatórios do Coaf apontam mais de R$ 48 milhões sacados em dinheiro vivo em operações semelhantes.

Do gabinete ao WhatsApp

A decisão judicial descreve, em detalhes, trocas de mensagens e ligações entre Antônio Doido e os operadores financeiros no próprio dia do saque. O deputado teria indicado valores, monitorado a movimentação e mantido contato até momentos antes da abordagem policial. Há registro, inclusive, de uso deliberado de mensagens temporárias, estratégia clássica para reduzir rastros digitais.

Polícia fora da lei

Um dos trechos mais sensíveis do processo envolve o uso de policiais militares fora de qualquer atividade oficial. O tenente-coronel Francisco Galhardo é apontado como coordenador de um grupo recrutado para atuar em interesses eleitorais do esquema. Conversas interceptadas tratam da compra de equipamentos de comunicação via satélite para manter equipes “rodando o interior” durante o fim de semana da eleição - véspera e dia do pleito.

Ourém, o laboratório

O foco dessa engrenagem eleitoral teria sido o município de Ourém, onde Amilton Leocádio dos Santos, o Neto Leocádio, irmão do deputado, disputava a prefeitura. Mensagens indicam liberação irregular de policiais da escala oficial, transporte de material de campanha e circulação de dinheiro em espécie às vésperas da votação.

Empresas e bilhões

No eixo financeiro aparecem a J.A. Construcons e a JAC Engenharia, empresas ligadas à esposa do deputado. Juntas, receberam centenas de milhões de reais do Estado. Só entre 2020 e 2024, pagamentos ultrapassam R$ 600 milhões. Parte desses recursos, segundo a investigação, alimentou um sistema de saques fracionados, repasses via lotéricas e ocultação patrimonial.

Licitações sob lupa

A decisão menciona licitações milionárias, consórcios empresariais e contratos revogados após questionamentos. Em um dos casos, uma concorrência de R$ 148 milhões foi anulada por falhas no planejamento orçamentário - depois de vencida por consórcio que incluía empresa do grupo investigado.

A PF bate à porta

Para o STF, o poder econômico e político dos investigados, aliado à continuidade das operações financeiras e ao risco concreto de destruição de provas, inviabilizou qualquer medida menos invasiva. Daí o aval às buscas. O episódio dos celulares pela janela apenas reforçou o diagnóstico.

A investigação segue em curso, sem juízo definitivo de culpa. Mas o que já está nos autos desenha mais que um caso isolado: revela um método. Quando celulares precisam ser lançados ao vento para tentar salvar narrativas, o problema não está no aparelho, mas no que ele guarda. E esse, começa a ser destravado tecla por tecla.

Papo Reto

O cantor paraense Wanderley Andrade (foto) inaugurou uma cena inédita, quiçá em termos mundiais. No Festival Psica, no sábado, no Mangueirão, ele desceu do palco, subiu e passou a cantar em cima de um dos banheiros químicos que estavam na lateral do gramado, levando o público à loucura. 

• O empresário José Miguel está pronto para inaugurar o seu colégio Centro de Informática e Tecnologia em Abaetetuba. Com matrículas abertas, o Centro pretende ser referência para o Brasil na área de robótica e operações com drone. 

O ministro Toffoli decidiu, em liminar, retirar da CPMI do INSS o acesso aos dados obtidos com a quebra de sigilos de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, determinando que apenas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tenha acesso ao material. 

• O ministro Alexandre de Moraes autorizou a realização de ultrassonografia a Jair Bolsonaro dentro da unidade da PF onde ele está preso, em Brasília. 

Alvo da PF, a assessora parlamentar Mariângela Fialek ganhou influência ao atuar na articulação e no controle de emendas parlamentares. 

• A Polícia Federal indiciou o deputado Gustavo Gayer por peculato, associação criminosa e outros crimes ligados ao uso da cota parlamentar. 

Depois de seis anos de tramitação, a PEC que assegura autonomia técnica, funcional e administrativa à perícia criminal, sem subordinação às polícias civis, está pronta para votação no Senado. A relatora, Professora Dorinha, quer votar a proposta nesta semana. 

• O Congresso aprovou projeto que reabre por mais 15 anos o prazo para ratificação de registros de imóveis rurais localizados na faixa de fronteira, atualmente limitado a 2030. A proposta segue para sanção presidencial.

Mais matérias Opnião

img
Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.