Educação Ambiental na rede pública do Estado vai impactar 500 mil alunos

Ainda que previsto, legalmente, há mais de 40 anos na Lei brasileira, iniciativa toma escopo no Pará somente agora, quando Belém foi escolhida como sede da COP-30 pela ONU.

27/06/2023 12:12
Educação Ambiental na rede pública do Estado vai impactar 500 mil alunos

O governador Helder Barbalho anunciou nas comemorações do Dia Mundial do Meio ambiente a inclusão da educação ambiental na matriz curricular da rede estadual de ensino, tornando obrigatória a disciplina. A iniciativa impacta a formação de cerca de 575 mil alunos da rede estadual e mais de um milhão de alunos das redes municipais.

 

O projeto anunciado prevê que a educação ambiental terá uma aula semanal e a expectativa do governo é que se inicie um movimento de adesão à novidade nas escolas municipais e privadas, que vão escolher se vão incluir a disciplina de forma obrigatória em seus currículos.

 

A educação ambiental nasceu como um princípio e um instrumento da política ambiental no Brasil. Os pressupostos legais para a prática estão presentes em dispositivos legais há mais de 40 anos no País. A Lei nº 6.938, de 31/08/81 institui a Política Nacional de Meio Ambiente, e no artigo 2º, inciso X, afirma a necessidade de promover a “Educação Ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.”.

 

À espera da Assembleia

 

A coordenadora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea/UFPA), Marilena Loureiro, explicou que permanece em trâmite na Assembleia Legislativa do Estado o projeto de lei que institui a Política Estadual de Educação Ambiental. A proposta já passou por diversas discussões públicas conduzidas, inclusive pelo Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente (Geam/Naea), Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental do Estado do Pará, já tendo sido objeto de discussões no Conselho Estadual de Educação, mas ainda sem promulgação.


Profª Marilena Loureiro

Esta política é mais ampla e responde às diretrizes da Política Nacional, determinando os princípios, objetivos desta proposta tanto para o sistema educacional quanto para o sistema de Meio Ambiente do estado. Marilena Loureiro salienta que a demora, seja na tramitação do projeto mais global, ou no lançamento desta política para as escolas ”está relacionado muito possivelmente com a compreensão ainda reducionista da educação ambiental presente na sociedade, que não vê sua importância vital para a formação das gerações presentes e futuras com base nas pautas socioambientais locais e globais”, disse.

 

Articulação tripartite

 

Sobre os elementos que devem estar inseridos nesta política de educação ambiental, Marilena Loureiro afirmou a necessidade de uma diretriz central se relacionando com a articulação entre três dimensões da praxis político-pedagógica: currículo; gestão e estrutura física. “Assim, de fato, a escola de educação básica pode ser vista e organizada como um espaço educador sustentável”. Destacou ainda que a melhor proposta de educação ambiental seria a partir da análise e dos diálogos com as práticas já realizadas e em realização pelos diversos sujeitos históricos da educação ambiental paraense. Ela citou como exemplo os grupos de pesquisas existentes nas universidades, e o Gem, que está completando 25 anos “e se debruça sobre estudos e estratégias para a implantação da educação ambiental nos sistemas escolares, e outros organismos, como a própria Ciea, a Rede Paraense de Educação Ambiental/Rede Paea, dentre outros, e ainda os resultados de experiências anteriores”, completou.

 

Questão de conversa

 

A coordenadora apontou que para concretizar uma educação ambiental na Amazônia é necessário um diálogo com as questões locais e os saberes construídos localmente, que são a chave para a boa integração das questões socioambientais na prática curricular das escolas. Isso implica a construção de escuta as experiências já desenvolvidas, mantidas e quase invisibilizadas. “Ganhamos uma oportunidade de, pela primeira vez, conseguir ver nas escolas a presença da educação ambiental para além das práticas episódicas do Dia do Meio Ambiente. Ela passa a ser um eixo para a discussão intercurricular, capaz de gerar novas mentalidades e novas atitudes com a ampliação da conscientização pública de que já chegamos a um ponto absolutamente crítico de nossa relação com a natureza, e está na hora da cidadania amazônica se apresentar como responsável pela recondução dessas relações em termos locais e globais.”

 

Todos os sujeitos

 

Marilena Loureiro finalizou que isso “só se faz com a participação de todos os sujeitos escolares e não escolares, e com uma política de gestão dos sistemas e unidades educacionais que efetivamente considere a educação ambiental como eixo estruturante da política educacional e não apenas como uma disciplina a mais a figurar no currículo, porque assim teríamos mudanças estruturais na escola e na sociedade”.


Mudança mais expressiva sobre o assunto segue em discussão, mas sem data para votação, na Alepa.

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